A SUBSTITUIÇÃO DOS QUÍMICOS PELOS BIOLÓGICOS NA AGRICULTURA BRASILEIRA

A SUBSTITUIÇÃO DOS QUÍMICOS PELOS BIOLÓGICOS NA AGRICULTURA BRASILEIRA

Os produtores brasileiros, nas duas últimas décadas, perceberam aumentos sucessivos nos custos do controle fitossanitário da lavoura. Novas pragas, novas doenças, ataques mais frequentes, plantas cada vez mais sensíveis e atrativas, aumento do número de aplicações de defensivos. Um paraíso para a indústria química. Um pesadelo para o produtor. Uma preocupação para os consumidores, com alimentos cada vez mais contaminados.

Nesse contexto, ficou fácil entender por que o controle biológico ganhou força no País. Os produtores abraçaram rapidamente a alternativa, que prometia redução de custos e de contaminação do ambiente, dos alimentos e das pessoas. No entanto, as pequenas empresas que multiplicavam e vendiam os agentes biológicos de controle, aos poucos foram sendo vendidas para as mesmas indústrias que já fabricavam os agrotóxicos. Agora na mão de poucas empresas, obviamente que os preços desses biológicos foram subindo gradativamente. Enquanto isso, as doses foram sendo reduzidas, aumentando ainda mais a margem dos fabricantes.

Chegamos num ponto em que o controle biológico já estava mais caro que o químico, e com frequência cada vez maior, não funcionava, obrigando os produtores a comprar de novo os agrotóxicos. Assim os custos subiram ainda mais pois, além do biológico caríssimo, muitas vezes era necessário aplicar um químico por cima.

Nesse cenário, alguns anos depois, surgiu uma nova e promissora alternativa para os produtores: a multiplicação “on farm” de microrganismos benéficos. Prometia uma radical redução nos custos e a possibilidade de o produtor produzir seus próprios biológicos, libertando-o finalmente da dependência da indústria de insumos.  Por isso, essa alternativa cresceu rapidamente no Brasil.

No início, os equipamentos e processos usados eram simples e caseiros, ao alcance de qualquer um. Mas logo percebeu-se que a multiplicação de isolados, não era tão fácil como a de comunidades, prática antiga já realizada com sucesso, principalmente por pequenos produtores. Multiplicar isolados exige método, assepsia, protocolos rigorosos, equipamentos e instrumentos adequados, situação quase incompatível com a mão de obra disponível nas fazendas.

Novamente o mercado percebeu isso e reagiu rapidamente. Surgiram as empresas que forneciam inóculos, meios de cultura e biorreatores, alguns de aço inox e custo elevado. As maiores agropecuárias do País saíram na frente, montando sofisticadas biofábricas “on farm” e laboratórios próprios para o controle de qualidade. Para os demais produtores, as empresas emprestavam seus reatores, mediante garantia de exclusividade na venda dos meios de cultura e dos inóculos.

Pois bem, passaram-se mais alguns anos e estamos aqui, no final de 2025. E…. qual é a situação atual? Verificamos que a grande maioria dos produtores, sejam grandes ou pequenos, apesar de todos os esforços feitos, não estão colhendo os resultados esperados com a multiplicação “on farm”. Os principais motivos são:

  1. Os resultados inconstantes no controle das pragas e doenças;
  2. Não conseguiram de fato eliminar, ou mesmo reduzir os químicos;
  3. Os custos do controle fitossanitários não reduziram;
  4. Aumentou o trabalho e o número de entradas na lavoura;
  5. Diminuiu a previsibilidade dos resultados.
  6. A escassa oferta de mão de obra de qualidade no meio rural.

Percebemos também que os produtores vivem diferentes momentos. Há aqueles que:

  1. Já investiram na multiplicação de isolados e abandonaram o projeto, por falta de resultados;
  2. Continuam a usar os multiplicados sem, contudo, conseguir reduzir significativamente as aplicações de químicos;
  3. Estão utilizando os multiplicados, mas não estão mensurando os resultados;
  4. Usam multiplicados e reduziram os químicos, mas perceberam prejuízos ou aumento das pragas e/ou doenças;
  5. Estão usando multiplicados e conseguindo reduções nos químicos, com bons resultados até agora. Estes, infelizmente, são minoria, até o momento.

Percebemos também uma certa resistência dos produtores em admitir que as multiplicações “on farm” não estão atendendo às expectativas, por causas diversas. Atribuímos isso ao fato de os agricultores perceberem que o “on farm” é a grande saída para três problemas que o incomodam muito: os altos custos, a dependência com relação à indústria de insumos e o desconforto causado pela necessidade de aplicar agrotóxicos em suas lavouras. Por tudo isso, fica fácil entender por que o produtor torce bastante para que essa solução realmente funcione.

Concluo afirmando que não podemos desistir nunca de reduzir o uso de agrotóxicos na produção de alimentos. No caso da multiplicação de isolados “on farm”, é necessário que nós, consultores, nos concentremos em:

  1. Mapear todos os possíveis motivos de fracasso do sistema. Na parte “industrial”, checar inóculos, meio de cultura, água, protocolos, equipamentos, armazenamento, laboratórios. Na parte agronômica, as escolhas corretas de organismos, doses, frequência, a tecnologia de aplicação, o monitoramento cuidadoso dos níveis das pragas e doenças na lavoura;
  2. Construir um sistema vivo e regenerativo. Em outras palavras, o ambiente agro ecossistêmico deve dar aos microrganismos, possibilidades de sobrevivência;
  3. Reunir as informações e dados para construir uma solução mais completa e segura, capaz de garantir os resultados esperados pelos produtores;
  4. Testar e validar cada etapa. Fazer as correções e ajustes necessários em cada propriedade. Confirmado o sucesso, treinar e capacitar os demais consultores para implementar em larga escala, com segurança.
  5. Mensurar os resultados alcançados. O custo/ha caiu? Quanto? Houve redução no uso de agrotóxicos? De quanto? Esse acompanhamento é imprescindível.

É hora de praticarmos uma agronomia mais integrativa, montar equipes multidisciplinares, com biólogos, geólogos, engenheiros entre outros. Não são apenas os produtores que esperam isso de nós, mas toda a sociedade. Muito trabalho nos aguarda.

Antonio N. S. Teixeira

Fundador da Libertas Consultoria e do Instituto Brasileiro de Agricultura Sustentável – IBA

Antonio Teixeira

Antonio Teixeira

No data was found