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LEITURAS

O SAMBA, A RAZÃO E A EMOÇÃO

Autor: Antonio Teixeira

segunda-feira, 10 de junho de 2019

O SAMBA, A RAZÃO E A EMOÇÃO

O samba enredo de uma escola do Rio provocou, recentemente, reações de repúdio, por sugerir que produtores rurais são “monstros” gananciosos e destruidores da natureza. Não é a primeira, nem será a última vez, que se coloca a produção de alimentos como “inimiga” ou adversária da preservação dos recursos naturais. De um lado, ecologistas, naturalistas, ONGs e simpatizantes. Do outro, produtores, empresas, bancada ruralista, associações, etc. Nós, humanos, adoramos polarizar as questões; ou estamos de um lado, ou estamos do outro. Ou você está certo, ou está errado.

Também adoramos julgar.... O outro! A partir de pouquíssimos elementos, de informações parciais ou destorcidas, de premissas nem sempre verdadeiras, já partimos, com toda a avidez, para a condenação final. Condenar o outro é uma delícia; nos faz sentir superior a ele, tira o foco de nossos deslizes, descarrega a culpa em alguém. Por outro lado, colocar as luzes em nossos erros nos envergonha, diminui nossa auto-estima, machuca nosso ego, nos torna frágeis perante os outros.

Enquanto polarizarmos as discussões e julgarmos os outros, não chegaremos a nenhum lugar melhor do que onde estamos. Não haverá evolução e nem solução para os desafios de nossa sociedade. Dizem que o que nos diferencia de um animal é o uso da razão e do bom senso. Deveríamos, pois, nos orgulhar de poder fazer uso desses atributos supostamente exclusivos de nossa espécie.

No entanto, diante de questões primordialmente técnicas ou lógicas, nos vemos, com frequência, exercitando muito mais nossas emoções do que nossa razão. Por que isso se dá? Confesso que não sei explicar. Mas o que observo é que, quando estamos dominados pelas nossas emoções, quase sempre achamos que estamos de fato com a razão. Só que.... Não estamos com a razão; estamos com a emoção!

É claro que existem os domínios da emoção. Situações em que, o melhor que podemos fazer é nos deixar levar integralmente pelas emoções. Nos amores, nas artes, nas inspirações, etc. São muitas as situações em que o que importa é o sentir, não o pensar. Em nossas vidas, ainda existem ocasiões em que um balanço razão/emoção funciona melhor, não acha?

No caso da produção de alimentos, existe uma discussão bastante acirrada sobre suas consequências para o meio ambiente. Daria para escrever vários artigos, querem ver?

1. Agrotóxicos ou defensivos agrícolas?

2. Agricultura química ou orgânica?

3. Agricultura familiar ou empresarial?

4. Confinamento de animais ou criações extensivas?

5. Produzir alimentos ou preservar florestas?

6. A agropecuária consome muita água, ou apenas usa e devolve?

São inúmeras as questões; todas elas polêmicas. E para complicar ainda mais, temos os interesses, particulares ou de grupos. Usamos a mídia para defender nossos interesses, mas também para que nos tornemos simpáticos a um dos lados da “causa” em questão. Por exemplo: se uma empresa tem como clientes os produtores rurais, então ela passa a defendê-los publicamente, pois assim conseguirá uma simpatia que acabará se transformando em vendas, seu objetivo final.

De outro lado, podemos ter pessoas, entidades ou empresas, querendo ser reconhecidas por possuírem posição de defesa dos recursos naturais. Por dinheiro, por poder, por vaidades ou mesmo por convicções diversas. Essas pessoas, igualmente usarão a mídia para atingirem seus objetivos.

Existem ainda, dos dois lados da discussão, pessoas muito bem-intencionadas, defendendo suas posições. Nesse grupo, encontramos, de um lado, pessoas realmente interessadas no bem público, sejam os recursos naturais, seja a produção de alimentos para as pessoas e de riqueza para o País. Ora, sendo elas bem-intencionadas, por que pensam tão diferente? Será que não lhes faltam informações técnicas mais precisas sobre o assunto? Será que estão atualizadas?

Essas discussões me fazem lembrar de um outro samba, esse de autoria do Sérgio Porto, chamado “o samba do crioulo doido”. Esse samba na época virou sinônimo de confusão, onde ninguém se entende. Um dos motivos dessa confusão entre ambientalistas e produtores é a visão estreita e parcial dos fatos. Isso mesmo, falta de uma visão mais ampla, sistêmica, sobre o assunto.

Diante das colocações feitas aqui, podemos concluir facilmente, que nem todas as informações que nos chegam ao conhecimento podem ser levadas a sério. Na verdade, bem poucas merecem ser consideradas, pois a maioria está irremediavelmente contaminada por interesses menores.

No caso da discussão sobre produção de alimentos versus preservação ambiental, o maior dos desafios é descobrir, entre tantos pareceres, estudos e opiniões, quem está, de fato, interessado em algo maior que seus interesses pessoais ou corporativos.

Quem está DE FATO, interessado em diminuir as desigualdades sociais e o número de pessoas que passam fome? Quem está DE FATO, interessado na preservação dos recursos naturais para as futuras gerações? Como distinguir o altruísmo verdadeiro dos interesses mesquinhos escondidos por detrás dos discursos bem elaborados, construídos com base em pesquisas de opinião? #Thatisthequestion!

Antonio Teixeira