LEITURAS

Há doze mil anos atras, os humanos eram nômades, não tinham endereço. Andavam, andavam, andavam.... procurando caça, frutos e sementes para comer. Por isso eram chamados de caçadores-coletores. Assim também era Samir, que tinha uma esposa e cinco filhos, o mais velho com 10 anos. Ele chegava a andar cinquenta quilômetros em um só dia. Às vezes levando junto a esposa e os filhos; às vezes os escondendo dos perigos em alguma caverna. Não era uma vida fácil; ficavam vários dias sem comer, quando não conseguiam uma caça ou vegetal.

Então, numa noite, Samir contemplava as estrelas com lágrimas nos olhos. Seus filhos pequenos estavam chorando, com fome, e ele não havia achado nem mesmo amoras ou castanhas. Foi nessa noite que Samir resolveu conversar com Deus....

- Senhor, Pai de todas as coisas, estou tentando ser um bom pai também. Mas minha família passa fome, meus pés estão inchados de tanto andar.... não encontro alimento! O que o Senhor quer de mim? Apenas viver andando, andando, e depois morrer encolhido em alguma caverna, ou comido por algum animal maior do que eu? Quando as árvores enchem de frutos, temos fartura. Mas depois que eles caem, passamos fome. Qual o sentido disso? Me ensina, Senhor, o segredo de plantar e colher! Me concede a benção de saber cultivar o SOLO!

Samir estava tão cansado e fraco que acabou dormindo ali mesmo, no capim macio. Então Deus mandou um sonho para ele. Nesse sonho, Samir estava com umas sementes de Centeio na mão, que deixava cair no solo, aos pouquinhos. Com a outra mão, ele as misturava com a terra, cobrindo-as levemente, enquanto Deus falava com ele:

- Samir, a partir de hoje, concedo aos homens o direito de plantar e colher nesse solo sagrado que acabo de abençoar. Mas preste bem atenção: o que plantar o homem, será o que colherá. Se plantar Centeio, colherá Centeio. E tudo o que plantar no coração dos seus irmãos, o mesmo é o que colherá também o homem. Só te peço uma coisa, Samir: que cuide bem do SOLO que ora te concedo. Mantenha-o vivo e puro; não o deixe morrer, para que, depois de você, outros possam plantar nele também.

Ao acordar de manhã, como acontece quando os sonhos são reais, Samir se lembrava de tudo. E levou um grande susto quando viu, em cima de uma pedra bem à sua frente, algumas sementes de Centeio. Na mesma hora ele as enterrou, como aprendera no sonho No dia seguinte, Deus mandou cair uma boa chuva naquele lugar. Samir resolveu ficar por ali alguns dias, para ver o que aconteceria. O Centeio nasceu e, com ele, nasceu também a agricultura.

A partir desse dia, Samir e sua esposa passaram a orar todas as noites, agradecendo a Deus pela benção de poder usar o solo para plantar e colher seu próprio alimento. Encontraram um bom lugar para morar, à beira de um riacho, e ali se fixaram definitivamente. Lembrando-se das palavras de Deus naquele sonho, Samir começou a dividir seus mantimentos com os humanos que passavam por ali, além de ensiná-los a arte divina de plantar, que iam aperfeiçoando, com o tempo.

E foi assim que Deus nos emprestou o solo e nos deu o direito de produzir nele nosso alimento.