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LEITURAS

A PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA E O MONTE EVEREST – PARTE 2

Autor: Antonio Teixeira

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA E O MONTE EVEREST – PARTE 2

Durante quase oito anos, fui produtor de hortaliças folhosas, como alface, rúcula, agrião, etc, em Uberaba, Minas. Atendia uma rede de supermercado com cinco lojas, além de diversas lojas de varejo. Cultivava no solo e em cinco mil metros de estufas hidropônicas, localizadas dentro da cidade. Por isso, não poderia ser chamado de produtor “rural”, mas sim de produtor “urbano”.

Foi nessa época que comecei a pensar no verdadeiro significado da expressão “produtor rural”. Depois de algumas reflexões, cheguei à conclusão de que eu era, simplesmente, um produtor de alimentos. O fato de cultivá-los dentro ou fora do perímetro urbano, era para mim menos importante. O que importava, era que cada uma daquelas alfaces, rúculas, agriões e chicórias, estaria no prato (ou no sanduíche) de uma pessoa. Que seria temperada com carinho, ou fazer parte de alguma refeição, para ser degustada com muito prazer (ou muita pressa, dependendo do estresse!).

Alguns alimentos que produzimos são consumidos in natura, como as alfaces. Outros são cozidos, fervidos, fritos ou assados, não importa. O que acho importante é que os alimentos geram em nós prazer e saúde. Prazer em saboreá-los, sim, mas também o prazer da confraternização, de podermos nos reunir para consumi-los juntos. Ao levarmos os alimentos naturais para dentro de nossos corpos, também estamos construindo nossas próximas células! Afinal, nos tornamos aquilo que comemos.

Nessa altura da conversa, gostaria de perguntar: o que você acha de levar prazer, satisfação e saúde para a casa das pessoas? E.... se esse for o seu negócio, o seu trabalho? Sem dúvida, essa é uma atividade especial, um privilégio, e deve ser motivo de orgulho, mas tem as suas responsabilidades. Os alimentos que estamos produzindo são de fato saudáveis? Ficaria feliz se a minha família os consumisse? Acho que produzir alimentos não é para qualquer um. Assim como a medicina, por exemplo.

O médico, como o produtor de alimentos, é um tipo especial de pessoa, de profissional. Ele pode viver (e enriquecer) com seu trabalho, é claro. Mas não a qualquer custo. Ele tem grandes responsabilidades. Arrisco-me a dizer que as do produtor são ainda mais abrangentes. Envolvem não só a alimentação das pessoas, mas também o gerenciamento dos recursos naturais, como o solo, a água, as árvores, os microrganismos do solo. Tarefas vitais para o bem-estar das futuras gerações.

Por outro lado, as gigantescas empresas que comandam a fabricação e venda de insumos agrícolas, exercem uma enorme influência, na opinião das pessoas, notadamente dos produtores de alimentos. Através de inúmeras estratégias de comunicação, tentam convencer-nos de que é preciso produzir mais, pois o mundo “tem fome”. Nem se lembram de que esse é um problema social e político, pois o alimento está disponível, no comércio nacional ou internacional. Só não tem acesso a ele, quem não tem o dinheiro para pagar.

Também não se lembram de que, no caso do Brasil, a maior parte das terras não é ocupada para produção dos alimentos que você come. A maior parte das terras são pastagens altamente degradadas, que poderiam estar produzindo até dez vezes mais carne do que estão. E com medidas banais, como análises de solo, uso de calcário, gesso ou mesmo um manejo adequado do pastoreio dos animais.

Outra grande parte das terras é usada para produção de cana, soja e algodão, produtos que provavelmente nem estavam presentes em nossas refeições de hoje (o que você comeu no almoço?). Portanto, não podemos cair nessa armadilha de argumentos e cálculos totalmente lógicos, mas que partiram de uma premissa inicial totalmente falsa. Precisamos nos conscientizar de que o produtor rural é, na verdade, um produtor de alimentos. Isso significa ser um produtor de satisfação e de saúde! Além de guardião dos nossos recursos naturais.

Pois bem, pelo exposto aqui nesse artigo, julgo-me no direito de sugerir que, a partir de hoje, todo produtor “rural” seja chamado de produtor de “alimentos”. Obviamente não vamos comer eucalipto ou algodão. Mas, que sejamos respeitados pelo governo e pela população, pelo grau de responsabilidade que pesa sobre nossos ombros.

Os produtores de alimentos devem, por sua vez, procurarem produzir os alimentos da forma mais limpa e sadia possível, não se deixando influenciar pelos interesses menores do mercado mundial de insumos agrícolas. Os meios técnicos para isso estão disponíveis, basta termos um pouco de foco. Se demonstrarmos interesse, se buscarmos soluções mais criativas e limpas para produzir, rapidamente a indústria de insumos irá se adaptar a essa nova demanda. Não tenham dúvidas sobre isso. Vejam o caso das soluções biológicas; como estão crescendo!

Se não demonstrarmos nossas preferências, a indústria vai nos vender o que ela já tem. No entanto, se sinalizarmos o que queremos, será isso o que irão buscar, para nos oferecer. Assim funciona o sistema capitalista no qual vivemos. Então.... O que nos impede de produzir alimentos mais sadios, descontaminados de tantas substâncias tóxicas? Estamos sendo apáticos? Ou estamos presos aos paradigmas do passado?

Proponho um passo na direção da satisfação e da saúde. Todos nos sentiremos mais leves, tanto os que produzem, quanto nós, os que consumimos os alimentos. Sentindo-nos mais leves poderemos subir mais alto…. Rumo aos novos patamares que devemos alcançar enquanto sociedade. Sim, queremos continuar essa escalada, rumo ao nosso Everest, rumo à nossa liberdade para decidir o que é melhor para nós, ao invés de decidirem por nós. Vamos, amigos, exercitar nossas posições críticas, vamos quebrar os velhos paradigmas desse “agronegócio” “hightech”, mas, ao mesmo tempo, seriamente contaminado pelos mesmos e antigos interesses.

Afinal, eu pergunto: o que é mais importante? Levar a satisfação e a saúde aos lares do nosso País (e do mundo!), ou agradar a meia dúzia de empresas multinacionais, cujo único objetivo é alcançar suas metas de venda? Ora bolas! Experimente sinalizar para elas que tipo de insumo você deseja para produzir. Posicione-se como produtor consciente de alimentos (ou consumidor). Sabe o que irá acontecer: As montanhas se moverão!

Obs.: sinalize para mim se deseja que eu continue essa série ou mude o assunto. Aguardo sua mensagem. Obrigado!

Antonio Teixeira