LEITURAS
SOLLOƧ
Autor: Antonio Teixeira
terça-feira, 6 de dezembro de 2016
O Brasil é o país que tem hoje, a maior extensão de solos que ainda podem ser usados para produzir mais alimentos. Sem derrubar uma só árvore, podemos transformar milhões de hectares de pastagens degradadas em agricultura, por exemplo.
Fácil de explicar:
- Ao invés de produzirem 300 quilos de carne por hectare/ano, esses solos, corrigidos, podem produzir 3.000 quilos de feijão + 13.000 quilos de milho, ou 30.000 quilos de batatas + 13.000 quilos de milho, ou ainda, 45.000 quilos de mandioca, no mesmo espaço/tempo!
E...., você pode perguntar, por que não fazemos isso? Pois é...., mas a coisa fica pior ainda, se eu te disser que podemos produzir não 300, mas 3.000 quilos de carne bovina, nesse mesmo local e tempo.... Então, qual a explicação?
- Se é possível tecnicamente, como agrônomo afirmo que sim,e se é viável economicamente falando, o que falta?
Nesse ponto, sinceramente, eu acho difícil entrarmos num acordo. Já tentei colocar esse tema, em diversas ocasiões, para debate. Logo de início, recebo normalmente uma chuva de argumentações e de motivos, para explicar porque estamos fazendo milhões de hectares produzir 300 quilos de carne apenas e nada mais, em um ano.
- Falta dinheiro para investir, dizem alguns. Falta mão de obra, falta mercado, falta vontade; dizem outros. O governo não ajuda; não dá segurança para que os investimentos ocorram. Não, não: o problema é cultural! O pecuarista é assim mesmo.... E por aí vai...
Nem todas as explicações são tão simples assim. Algumas são teorias altamente complexas, mirabolantes. Conheço várias empresas enormes, fabricantes de insumos agrícolas ou pecuários, de máquinas ou equipamentos, que já se aventuraram (ou estão agora fazendo isso) pelos labirintos desse grande mistério.
Fazem planos, criam projetos, contratam equipes de venda, gastam dinheiro com marketing, tudo com o objetivo de alcançarem esse gigantesco “mercado potencial”, o das pastagens degradadas do Brasil. E quebram a cara. Por que, por que, por que? Onde será que estamos errando?
As explicações estão por aí, as mais diversas, na internet, nos livros, nos jornais, nas entrevistas, na opinião dos especialistas. Não vou repeti-las aqui. Quero sair desse “lugar comum”; quero te dar uma explicação inédita, única, para tudo isso.
Afinal, enquanto o mundo inteiro não tem mais solos disponíveis para aumentar a produção de alimentos, estamos nós, aqui, a desperdiçar os nossos.Enquanto milhões passam fome, estão no gelo ou em desertos, cá estamos nós, com rios e chuvas a vontade, sol e calor o ano todo, gigolando solos, esse é o termo, e produzindo míseros 300 quilos de carne por hectare.
É claro que existe o outro universo, o dos pecuaristas eficientes, profissionais, que estão tratando bem o solo e, consequentemente, produzindo muito bem. Só que, infelizmente, essas pessoas ainda formam um grupo bem menor, comparado ao todo.
Caro leitor, você não precisa concordar comigo. Mas confesso que ficaria feliz se ao menos pudéssemos trocar ideias sobre o que direi agora. E.... podemos sim, fazer isso, sinta-se à vontade (antonio@agrolibertas.com.br). Então vamos lá:
A pergunta é:
- Por que ainda estamos produzindo apenas um décimo do que poderíamos tecnicamente, nos milhões de solos sob pastagens degradadas, existentes no Brasil?
Minha resposta é:
- Por que estamos diante de uma série de paradigmas, que estão enraizados na mente das pessoas. E paradigmas demoram para serem derrubados.
Não, não se trata de falta de dinheiro. O dinheiro fareja as boas oportunidades. Tampouco são problemas de ordem técnica. Já se sabe como fazer. Nosso problema é achar que somos racionais. Na verdade, acho que a razão é uma via pouco utilizada hoje em dia.
Quando falo dos paradigmas, me refiro aos velhos conceitos, que são repetidos, copiados, sem questionamentos. Podem ser conceitos técnicos, sobre relacionamentos, sobre dinheiro e sobre formas de se administras o negócio, até sobre emoções mal resolvidas.
Os velhos e empoeirados problemas humanos do orgulho, da vaidade, do egoísmo, turvam nossa visão, cegam-nos, impedem-nos de ver com clareza os melhores caminhos. Fica o debate: falta-nos acesso às técnicas? Aos financiamentos? Aos mercados? Talvez..., mas tudo isso tem solução.
O que quase não tem solução, é o deserto. E é para onde estão caminhando rapidamente muitos solos maltratados por nós. Tanto na pecuária, quanto na agricultura. Por que será que, até hoje, em pleno século XXI, a maioria dos agrônomos continua tratando o solo, como se ele fosse não um organismo vivo, multiespecífico, mas uma mera sopa de letrinhas? N, P, K, Ca, Mg, S, Si, B, Zn, Mn, Cu, Co, Mo, Ni, etc?
Assim como em outras áreas da ação humana, como a política e a medicina, a produção de alimentos precisa mudar rapidamente. Os políticos ultrapassados e corruptos estão matando milhares de pessoas humildes, nas filas dos hospitais. Médicos ultrapassados e mercenários estão criando um mundo de fármaco-dependentes. Agrônomos ultrapassados estão matando os solos e ajudando a produzir alimentos contaminados.
Eles não vão mudar. Nós é que devemos parar de escolhê-los. Tem muita gente boa por aí, trabalhando firme para mudar o rumo dessa história. Eu ponho fé nessa moçada!
No próximo artigo, conto porque escrevi SOLLOƧ desse jeito, ok?