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LEITURAS

ART: Agricultura Regenerativa Tropical. O que é de fato?

Autor: Antonio Teixeira

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

ART: Agricultura Regenerativa Tropical. O que é de fato?

Nos últimos 200 anos, a arte de produzir alimentos, também chamada de agricultura, desenvolveu-se pelo mundo, seguindo duas vertentes principais. Na mais difundida delas, as “estrelas” são os insumos químicos e as sementes modificadas, chamados pela indústria de “tecnologias”. É um modelo na verdade menos complexo, onde predomina a visão reducionista e, por isso mesmo, de fácil adoção em larga escala.

A outra vertente, de visão mais sistêmica ou holística, prioriza processos e sistemas mais complexos, biodiversos, evitando as “fórmulas universais”. Nesse modelo, os insumos são considerados ferramentas auxiliares, que têm a sua utilidade de acordo com as situações específicas de cada área. Mas é fato que a necessidade de insumos externos diminui consideravelmente. Talvez por esse fato, essa vertente seja rotulada pela indústria de “agricultura de baixa tecnologia”, e não tenha sido tão divulgada quanto a outra.

Como a lógica do comércio é vender sempre mais e, no caso dos insumos agrícolas, a produção se concentra em um número bem reduzido de indústrias fornecedoras de insumos, é natural que esse oligopólio tenha exercido (e ainda exerce) um alto poder de convencimento sobre a superioridade do modelo reducionista.

Até aí, tudo bem. No entanto, alguns fatores recentes estão virando esse jogo. Os principais são:

1. A opinião pública, nos países desenvolvidos, vem adquirindo crescente conscientização a respeito da importância para nossa saúde, de consumirmos alimentos saudáveis, limpos de agrotóxicos, e produzidos sem adubos sintéticos de alta solubilidade;

2. Da mesma forma, cresce diariamente o número de pessoas que não desejam comprar alimentos que sejam produzidos às custas de prejuízos aos recursos naturais, como desmatamentos e a degradação dos solos e poluição de águas;

3. Por último, junto com o aumento da temperatura média do globo, cresce também o número de pessoas que querem deixar um mundo melhor aos seus descendentes. Por isso, a pegada de Carbono do alimento conta muito. E os consumidores esclarecidos querem saber como foi produzido o alimento que estão comprando.

É nesse contexto que surge a ART – Agricultura Regenerativa Tropical. A resposta do mundo tropical a esse anseio popular, que vem se alastrando pelo mundo afora, de modo irreversível, como se fosse uma luz, finalmente iluminando a escuridão da ignorância humana, que destrói o solo que gera nossa alimentação. Os países tropicais, pelas próprias condições naturais de clima, estão irremediavelmente incumbidos de alimentar boa parte do mundo.

Vamos então caracterizar esse novo conceito, que na verdade recebe toda a convergência das correntes holísticas do passado e do presente, como a agricultura conservacionista, a natural, a biodinâmica, a orgânica, a permacultura, e tantas outras. O que interessa agora não é o nome, mas o modo como se trata o solo e os demais recursos naturais. Então, a ART é uma forma de produzir alimentos que usa os conceitos da agroecologia porteira adentro, para produzir alimentos saudáveis, enquanto recupera os solos que foram degradados.

Existe um conceito que explica melhor isso:

Entende-se por Agricultura Regenerativa Tropical, modelos integrativos, que harmonizem práticas, manejos, insumos, recursos naturais e serviços ecossistêmicos, de forma sustentável, eficiente e lucrativa, para:

a. produzir alimentos saudáveis;

b. regenerar o solo tropical;

c. sequestrar Carbono atmosférico.

Quais são os fundamentos da ART? São exatamente esses modelos de agricultura que construíram a história da vertente holística da produção de alimentos no mundo. São modelos mais biodiversos, multidisciplinares, que usam os recursos da agroecologia, da biomimética, da biologia, da microbiologia, da mineralogia, entre outras.

As principais ferramentas utilizadas na ART são:

1. a biodiversidade temporal e espacial, incluindo aí as plantas de cobertura;

2. a gestão integrada da matéria orgânica na fazenda, através da compostagem tropical, da produção e deposição de fitomassa, da gestão das fermentações microbianas;

3. o uso dos remineralizadores e fertilizantes naturais regionais e a redução gradual de uso dos fertilizantes de alta solubilidade;

4. a substituição dos pesticidas por biológicos e outras alternativas de manejo, no controle das pragas e doenças;

5. o uso do plantio direto na palha, das inoculações, das comunidades microbianas e das integrações entre lavoura, pecuária e floresta.

Os desenhos ainda podem incluir outros recursos, como uso de quebra-ventos, de áreas de refúgio, de plantas que atraem amigos naturais, por exemplo. A lógica é sempre a mesma: a partir da compreensão dos princípios naturais que regem os agroecossistemas, e considerando as tecnologias disponíveis, constroem-se modelos personalizados, que se caracterizam por manter o solo vivo e bem estruturado fisicamente. Assim, as raízes podem se desenvolver livremente, e a água da chuva pode se demorar mais nele. Isso, de certa forma, nos prepara para os tempos incertos que estão chegando, com o aquecimento global.

Um ponto interessante, é que esse modelo de produzir resgata, de certa forma, o protagonismo do produtor e sua equipe, quanto às decisões a serem tomadas para a lavoura. Não posso deixar de dizer que a ART nos traz a esperança de um mundo realmente melhor, porque resgata a ética na produção dos alimentos. Sim, produzir alimentos requer um modelo ético mais refinado, semelhante à medicina. Afinal, o produtor tem em suas mãos a prerrogativa de produzir um alimento que vai fazer mal ou bem às pessoas que o ingerirem, dependendo da forma como for produzido.

Portanto, aqueles que produzem alimentos limpos, dignos de serem comidos, que regeneram os recursos naturais e ainda sequestram Carbono no solo, merecem todo o nosso respeito e apoio, porque produzem com ética e responsabilidade. Produzir alimentos voltou a ser uma ART.

Antonio N. S. Teixeira, autor do livro “Sou a natureza, quero falar com você”.

Antonio Teixeira